Wadubari



Os nabèbè têm marcado nas superfícies de papel tudo que aconteceu desde há muito tempo. Muito tempo existiu antes que os nabèbè soubessem os desenhos-palavras. Ninguém sabe direito o que aconteceu nesse tempo. O tempo não tem fim ou começo.

Segundo as superfícies de papel dos nabèbè, foi há menos de quinhentos anos que os primeiros deles atravessaram a água grande. É um tempo insignificante se comparado ao da existência do homem na Terra.

Os nabèbè estragaram e sujaram seu mundo. Invadiram ao mesmo tempo o mundo das pessoas que moravam deste lado da grande água. Lugar que chamam de América.

Debaixo do mesmo céu ficam mundos de pessoas diferentes. O mundo das pessoas da serra era, até quase agora, o único lugar que os nabèbè ainda não tinham esburacado e sujado.
Para as pessoas que moram na serra, parece está chegando a hora em que o céu vai cair. Os xaboribè estão mortos ou fracos de doença e fome. As àrvores que sustentam o céu estão sendo derrubadas. É o fim. Apocalipse, como dizem alguns nabèbe.

Sendo o céu o mesmo para os que são da serra e para todos os outros que são nabèbe, é de se esperar que caia de uma só vez sobre a cabeça de todos. E está cada vez mais perto a hora em que o céu será derrubado. Quase nenhum deles acredita ou pensa nisso. Enquanto isso, procuram construir armas cada vez mais mortais, coisas que aumentem seu poder sobre os outros, instrumentos cada vez mais danosos para explorar a terra e tudo que ela sustenta.

Deve existir um motivo muito forte para que os nabèbe insistam em continuar sua tarefa de destruir o mundo.

Para os nabèbe, as barras do metal amarelo valem mais que os rios, a floresta, os bichos e os próprios homens.

Assim sendo, chega o fim dos viventes na terra. Ela continuará, possivelmente, através do tempo sem fim. A não ser que terráqueos, inteligentes ou não, unam-se e descubram algo que seja bom para todos.

Por ora, somos todos testemunhas:
"Tragédia é quando não sobra ninguém..."


Nabè = Pessoa que não é Yanomami. Plural: Nabèbè

Fonte : WADUBARI
Desenho André Hewënahipitheri Yanomami (1981)

.... continua em Sobretudo


Um comentário:

  1. A simplicidade que os "civilizados" não querem entender.

    É de doer!

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