Sob o olhar dos olhos-d'água.
Faça-se o poema
em um piscar de olho-d’água.
Poema dos olhos-d’água
com sobrancelhas e cílios postiços.
Poema do espelho-d’água
que fez careta
mas depois sorriu para o menino.
Poema do copo-d'água
e do galhinho de arruda
que salvam as crianças
do mau-olhado e do vento-caído.
Poema da mãe de leite
que os botos levaram
para amamentar os recém-nascidos
que as próprias mães jogaram no rio.
Poema da mulher cega
levada pela cobra-grande
para cantar ladainha
na procissão dos afogados.
Poema da mulher parteira
que o rio arrastou pelos cabelos
para aparar os filhos da mãe-d'água.
Poema dos afogados
que tentaram beber toda água do rio
na esperança de morrerem enxutos.
Poema dos afogados
que espantam o frio da noite
sentados ao pé da fogueira de assa-peixe e peixe-lenha.
Poema dos afogados
que leram e releram o volume do rio
queimando as pestanas
na luz acesa dos olhos-d’água.
Poema do dicionário do rio
no qual a palavra peixe
só falta saltar em patas
ao mugir do peixe-boi pastando
enquanto o peixe-cachorro ladra.
Poema da Maria do assopro
levada pela mãe-do-rio
só para tirar cisco dos olhos-d’água.
Poema das meninas nativas
que morreram afogadas
e foram aprender a bordar
o (v)estuário do rio
com peixe-agulha e linha-d’água
Maravilhoso...
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Beijinhos,
***maat
Hanah, lindíssimo esse poema! Abraços floridos da Angela Ursa :))
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