Ao Dia do Indio e da Terra

O Meu Olhar
Alberto Caeiro

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

*


4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Alberto Cairo, esse heterónimo de Fernando Pessoa, maravilhosa poesia. Gostei.

    abraço Hanah

    ResponderExcluir
  3. Linda poesia, realmente!

    Seu espaço cada dia melhor

    ResponderExcluir
  4. Não conhecia. Obrigado!
    É linda mesmo.

    bjs

    ResponderExcluir